segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Trauma na adolescência faz entusiasta correr atrás de um Gol GTI 1992




Os Volkswagen Gol "quadrados" e suas conhecidas rodas Orbital são vistos aos montes pelo Brasil. Quase 20 anos atrás, Marco Conte, dono desse modelo, era acostumado a abrir a garagem de sua casa, ligar um esportivo destes e curtir sua juventude. Até o dia em que seu GTI foi roubado, deixando imensa frustração. Para superar seu trauma, Marcos decidiu fazer um GTI diferente, anos depois, com nada menos que um motor de Audi/Golf 1.8 Turbo -- que originalmente tem 180 cavalos.

"Quando levaram meu Gol foi difícil achar outro igual. Felizmente, superei esse trauma no dia em que achei esse 1992 na internet, à venda no Mato Grosso, com placas de Minas Gerais. Estava com apenas 40 mil km originais, tinha chave reserva e manual. Abracei no ato", conta Conte.

João Mantovani/Fullpower

Volkswagen Gol GTI, um dos carros mais desejados do século passado

A solução desse caso de amor tardio aconteceu em 2007, quando ele recebeu o carro de guincho em Indaiatuba, no interior de São Paulo. O tempo passou e o proprietário não se empolgava tanto mais com o desempenho do motor 2.0 original. Logo o GTI foi para a Herrera Motorsports, onde ganhou um turbo na sua primeira preparação, que durou três anos. Em uma das visitas a São Paulo, conversas com o preparador Bruno Herrera e um antigo gosto pelos Audi A3 o convenceram a iniciar um projeto mais radical. 
Durante meses o carro ficou parado na oficina para a adaptação. Você pode se perguntar o motivo de esperar tanto tempo para uma troca dessas, em vez de preparar o bom e velho motor AP, consagrado e eficiente, certo? E mais: usar um motor que fica na transversal nos modelos em que é vendido para adaptá-lo na longitudinal? É muita coragem! Ou arrojo!! Ou os dois!!!

Na verdade, é mais do que isso. Deixa de ser uma simples adaptação e se torna uma curtição. Tudo por ser diferente e querer algo exclusivo, num cenário de preparação e customização que já tem quase todas as receitas prontas.
Na "clínica" responsável por este transplante é claro que, além da adoção do novo quatro cilindros, uma leve preparação foi incluída. Hoje, entrega mais de 300 cv e quase 40 kgfm de torque. "Quando o Marcos veio até a oficina, mostrei um Gol TSI 1998 no qual estávamos terminando a adaptação do 20V de Audi/Golf. Ele gostou da ideia", comentou Herrera. O preparador deixou claro que é algo para apaixonados por um determinado modelo, e que trata-se de um trabalho exaustivo, lento e custoso. 
NÃO É FÁCIL
As alterações são mesmo trabalhosas. Afinal, não basta simplesmente sacar o AP e enfiar o novo quatro cilindros. A coxinização teve de ser refeita com peças e suportes fabricados especialmente para esse modelo de Gol. Para instalar o câmbio de cinco marchas, no entanto, não são necessárias adaptações radicais, já que eles se encaixam. 
Para tirar o máximo do rendimento, a carcaça do cinco marchas foi mantida, porém as engrenagens são especiais, da Sapinho (SP). De primeira a terceira a relação é igual à de fábrica, porém forjadas e helicoidais (não têm dentes retos). Já a quarta e a quinta têm relações alongadas, para aproveitar ao máximo o rendimento do multiválvulas -- com comando de válvulas duplo para "ver o oco" de máxima!
Apesar de pistões e bielas continuarem originais, por fora houve melhora de componentes. "Optei por um turbo GT2860RS, modelo roletado da Garrett, que funciona muito bem nesses quatro cilindros para até 350 cv", diz Bruno. Comprovamos a eficiência numa área fechada de Indaiatuba: a pegada em baixa rotação é realmente boa e, conforme o giro sobe, parece que o apetite aumenta. A maquineta de vento sopra para o motor com força e um piggy-back HIS/Herrera comanda a quantidade de etanol que será enviada e injetada pelos bicos de 80 lbs/h. Além disso, um watercooler ajuda a manter a densidade do ar e faz com que a "dieta" seja rica o tempo todo com o pé embaixo.
DIVERSÃO COM SEGURANÇA
Sabendo da resistência desse conjunto, dava vontade de ficar de pé colado em todas as marchas! Nas aproximações de curva, o kit de discos nas quatro rodas (originalmente eram tambores na traseira) com melhorias na dianteira realmente dão mais segurança e tornam o passeio divertido. Ainda mais com os  amortecedores Koni, reguláveis, que garantem um comportamento difícil de encontrar em Gol turbinado. É tanta curtição que até a filha do Marcos, Alícia, gosta de andar no VW. "Minha filha não quer saber de outro carro. Quer andar no Gol e ponto final", confessa Marcão. 
Gostou da brincadeira, não é? Nós também! Entretanto, achar um filé como esse é uma tarefa árdua. Segundo Denilson Santos, especialista nesses esportivos dos anos 1980 e 90, é preciso ter alguns cuidados antes de fazer o cheque ou transferir a grana para comprar um VW GT, GTS ou GTI: "Os quadrados são famosos pelas trincas que aparecem no túnel do câmbio, parede corta-fogo, longarinas e caixas de rodas. Deve-se percorrer essas partes atentamente. Geralmente, essas rachaduras surgem em carros malcuidados ou que rodaram muito tempo rebaixados. Para versões esportivas, é bom verificar acabamentos como frisos e borrachões, bancos Recaro e carpete, por exemplo". (por Eduardo Bernasconi, editor da Fullpower)

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